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domingo, 11 de outubro de 2009

Lyoto Machida, O Samurai Brasileiro



Lyoto Machida é apenas um rapaz latino-americano com um bom dinheiro no banco, parentes muito importantes e vindo do coração da Amazônia. É ali que estamos, em Belém do Pará, quando um SUV Honda se aproxima e estaciona em frente ao hotel para nos buscar. É domingo e os fins de semana são sagrados para a família Machida: haja o que houver, se estiverem na cidade, Lyoto, os quatro irmãos, as esposas e os filhos se reúnem na casa dos pais, em Ananindeua, cidade da região metropolitana da capital paraense. Não bastasse ter nos convidado a participar do almoço, Lyoto também nos oferece carona até lá.

Enquanto a janela filmada do carro se abre, vão se desligando os neons de Las Vegas, a capital mundial do Ultimate Fighting Championship (UFC), como se os milhões de dólares que essa indústria movimenta esvanecessem, e como se a crescente fama global fosse um véu facílimo de retirar. Atrás do vidro negro está só um cara normal, que poderia ser seu amigo. Ele ri sonoramente, pergunta tanto quanto responde, interessa-se pelas coisas do mundo fora dos ringues, mas não se incomoda nem um pouco de falar da vida de lutador por horas a fi o. Ele ouve Ivan Lins e Djavan, mas pira mesmo em Zé Ramalho e, sobretudo, Belchior. "Essa coisa de rock pesado é barulheira. Não entendo nada do que eles dizem", brinca Lyoto, que aos 31 anos, acaba de chegar ao topo do mais importante campeonato do chamado Mixed Martial Arts (MMA), estilo de técnicas mistas de luta que refinou a disputa do antigo vale-tudo.

Ao derrotar o então invicto Rashad Evans em maio deste ano, o brasileiro conquistou o cinturão da categoria meio-pesado, a mais disputada do circuito, na edição 98 do UFC. E está prestes a defender o título pela primeira vez, contra o compatriota Maurício "Shogun" Rua. A luta ocorrerá no dia 24 de outubro em Los Angeles, em um provavelmente lotado Staples Center, a casa dos Lakers, e será a atração principal do octógono - o ringue geométrico com formato de jaula em que é disputado o torneio - no UFC 104.

Lyoto Machida, 15 lutas disputadas, 15 vencidas, sequer um round perdido em toda a carreira, é um fenômeno. Enquanto percorre o estreito caminho que leva dos vestiários ao ringue, a meio metro de cada lado de uma multidão enlouquecida e até o instante imediatamente anterior a sua entrada no octógono, Machida é um monstro de quatro corpos e quatro mentes. Uma criatura mítica conectada a uma tradição milenar que até bem pouco tempo não tinha espaço no circo de protótipos de caminhoneiros norte-americanos promovidos a lutadores selvagens. Um verdadeiro dragão-samurai em meio aos bêbados brigões dos fundos de bares de beira de estrada. Lyoto "The Dragon" Machida, como é apelidado nos Estados Unidos, leva consigo nesse trajeto as três pessoas que mais contribuem em sua preparação: o pai, Yoshizo, o irmão Chinzo e a esposa, Fabyola. São esses os anjos de vanguarda numa constelação focada na ascensão de Lyoto, e em que também estão presentes a mãe, Ana, os outros dois irmãos biológicos, Takeriko e Kenzo, e o irmão de criação, Francisco. Também estão junto ao front o empresário Jorge Guimarães, o Joinha, o preparador físico Eduardo Lisboa, o sparring Laurel Moraes e o mais novo integrante do clã, Taiyo, filho de Lyoto e Fabyola, de um ano e um mês de idade.

A trajetória dos Machida é digna de uma narrativa cinematográfica que tem o caratê e a cultura japonesa como personagens principais. Durante a infância em Salvador, Ana nutria a curiosa mania de colecionar recortes de revistas com retratos de crianças de feições asiáticas. A inocente admiração pela beleza dos traços orientais falaria alto ainda durante a juventude, quando ela se encantou à primeira vista pelos olhos puxados de Yoshizo. O ambiente do primeiro encontro não poderia ser mais familiar: uma festa organizada na academia de artes marciais onde ele dava aulas para o então namorado da irmã de Ana. Porém, ela garante que demorou a ceder às investidas do confiante japonês que se transformaria no pai de seus filhos. Mais do que o charmoso automóvel Karmann-Ghia dirigido por ele na década de 1970, foi a mítica aura que envolve a filosofia do caratê que ajudou a arrebatar o coração da discreta Ana. A cerimônia de casamento contou com um ritual-surpresa preparado pelos colegas faixas-pretas da academia de Yoshizo, em meio a misteriosas luzes negras.

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